Custa-me a perceber a indignação de uma considerável parte da nossa sociedade portuguesa em despender energias para se opôr ao casamento entre homossexuais. São manifestações, petições, declarações e mais confusões numa temática cuja discussão nem sequer deveria ter lugar.
Homo, hetero, bi, trans, e outros quaisquer "prefixos" balizadores da expressão psico-afectiva humana apenas servirão para continuarmos a posicionar o ser humano em categorias que mais servem para tranquilizar maiorias, do que propriamente para resolver questões que se impõem.
A afectividade e a sexualidade vivem-se não em função de divisões artificialmente criadas de acordo com o moralismo reinante, mas sim em função do que efectivamente sentimos por outro independentemente do género do objecto de afeição. Pelo menos, esta é a minha visão... Partindo deste pressuposto, e lembrando que ninguém pode ser discriminado em função de raça, etnia, orientação sexual, religião, e por aí fora, é paradoxal a actual proibição do casamento a casais do mesmo sexo.
Mas falando agora de quem se opõe, nesta matéria custa-me ser tolerante para quem é contra. Um dos argumentos é o modelo de família, outro é a perigosidade que esses casais representam para as crianças que virão a adoptar... Argumentos que não fazem sentido nenhum para quem se acha no direito de elevar bem alto o estandarte da moralidade e da família perfeita...
P.S. Obrigado pelo incentivo ao primeiro comentário recebido neste blog. Às vezes é a preguiça que se apodera, outras vezes é não saber o que escrever...
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Comecemos a partir pedra...
"O meu único desejo é um pouco mais de respeito para o mundo, que começou sem o ser humano e vai terminar sem ele - isso é algo que sempre deveríamos ter presente".
Este desabafo pertence a Claude Lévi-Strauss quando recebeu em 2005 o XVII Prémio Internacional Catalunha, em Espanha. Morreu no passado dia 30 de Outubro com 100 anos um dos maiores pensadores e intelectuais do séc. XX com uma vasta obra publicada e reconhecida internacionalmente. Antropólogo, professor e filósofo, é considerado fundador da antropologia estruturalista e a importância do seu legado para o aprofundamento do conhecimento humano é inegável.
O estudioso jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única. Sempre enfatizou que a mente selvagem é igual à civilizada. A sua crença de que as características humanas são as mesmas em toda a parte surgiu nas incontáveis viagens que fez ao Brasil e nas visitas a tribos de indígenas das Américas do Sul e do Norte.
O antropólogo passou mais de metade da sua vida a estudar o comportamento dos índios americanos. O método usado por ele para estudar a organização social dessas tribos chama-se estruturalismo. "Estruturalismo", dizia Lévi-Strauss, "é a procura por harmonias inovadoras".
Esta pequena introdução serve apenas para enquadrar e, de certa forma, homenagear uma referência do humanismo
Já fui mais optimista. Tem dias… Mas é certo que nos devemos concentrar em perceber, reflectir e agir por que todos os dias assistimos numa perturbadora passividade ao que se passa à nossa volta. Corrupção, violência, fome, crise, guerra, desemprego, problemas ambientais irreversíveis, e uma série de outros problemas que servem sempre para uma boa conversa de café entre amigos, cada um com as suas teorias, mas que todos depois solitariamente nos tranquilizamos ao convencer-nos que nada podemos fazer para mudar o mundo… Ou então, fazemos o exercício contrário, que será pensar que afinal o Mundo é extraordinário e temos é que ser positivos e optimistas lembrando-nos das coisas boas que, naturalmente existem, enclausurando toda a podridão mundana e espiritual numa moratória artificial, como se a nós nos fosse permitido delas desresponsabilizar.
Penso existirem obrigações inerentes a todos nós, sendo que a primeira delas é percebermos e interiorizarmos que fazemos parte de um mundo numa grande unidade macro-sistémica cujo funcionamento depende da acção conjunta de todos. Por isso, em última instância, somos responsáveis. Para o bem, e para o mal… Daí achar que o primeiro passo para a mudança será aperceber-nos de forma consciente e integrada da nossa responsabilidade como seres humanos. Volto à frase inicial de Lévi-Strauss: “(…) um pouco mais de respeito para o mundo (…)”
Este desabafo pertence a Claude Lévi-Strauss quando recebeu em 2005 o XVII Prémio Internacional Catalunha, em Espanha. Morreu no passado dia 30 de Outubro com 100 anos um dos maiores pensadores e intelectuais do séc. XX com uma vasta obra publicada e reconhecida internacionalmente. Antropólogo, professor e filósofo, é considerado fundador da antropologia estruturalista e a importância do seu legado para o aprofundamento do conhecimento humano é inegável.
O estudioso jamais aceitou a visão histórica da civilização ocidental como privilegiada e única. Sempre enfatizou que a mente selvagem é igual à civilizada. A sua crença de que as características humanas são as mesmas em toda a parte surgiu nas incontáveis viagens que fez ao Brasil e nas visitas a tribos de indígenas das Américas do Sul e do Norte.
O antropólogo passou mais de metade da sua vida a estudar o comportamento dos índios americanos. O método usado por ele para estudar a organização social dessas tribos chama-se estruturalismo. "Estruturalismo", dizia Lévi-Strauss, "é a procura por harmonias inovadoras".
Esta pequena introdução serve apenas para enquadrar e, de certa forma, homenagear uma referência do humanismo
Já fui mais optimista. Tem dias… Mas é certo que nos devemos concentrar em perceber, reflectir e agir por que todos os dias assistimos numa perturbadora passividade ao que se passa à nossa volta. Corrupção, violência, fome, crise, guerra, desemprego, problemas ambientais irreversíveis, e uma série de outros problemas que servem sempre para uma boa conversa de café entre amigos, cada um com as suas teorias, mas que todos depois solitariamente nos tranquilizamos ao convencer-nos que nada podemos fazer para mudar o mundo… Ou então, fazemos o exercício contrário, que será pensar que afinal o Mundo é extraordinário e temos é que ser positivos e optimistas lembrando-nos das coisas boas que, naturalmente existem, enclausurando toda a podridão mundana e espiritual numa moratória artificial, como se a nós nos fosse permitido delas desresponsabilizar.
Penso existirem obrigações inerentes a todos nós, sendo que a primeira delas é percebermos e interiorizarmos que fazemos parte de um mundo numa grande unidade macro-sistémica cujo funcionamento depende da acção conjunta de todos. Por isso, em última instância, somos responsáveis. Para o bem, e para o mal… Daí achar que o primeiro passo para a mudança será aperceber-nos de forma consciente e integrada da nossa responsabilidade como seres humanos. Volto à frase inicial de Lévi-Strauss: “(…) um pouco mais de respeito para o mundo (…)”
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